domingo, 4 de abril de 2010

a cólera


Talvez ainda a guerra não tenha começado.

Talvez o sangue derramado fosse só uma gota.

Talvez a missa tenha sido tarde da noite

E os erros foram pelo amanhecer.

Talvez aquele que disse ser tarde,

Sabia o que estava falando.

Talvez a agonia e a insanidade

Fosse melhor e menos doloroso.

Talvez quando as coisas acontecerem,

Todos se assustem

Talvez tudo será cólera.

Mas talvez, você deva pensar

e fazer mais escolhas.

Assim, nem tudo será cólera.

Ela estava linda. Uma hora depois do telefonema, Eva encontrava-se parada no hall da casa de Rodrigo. Ela tinha seus cachos cor de laranja presos em um coque desajeitado e trajava um vestido comportado, florido; estava bem aceitável e parecia com uma dama. Era interessante como ela tinha uma aparência suave e como era simples em seu jeito de vestir. Eva não precisava de se enfeitar demais, pois ela era sua própria guirlanda. Em seu ombro esquerdo aparecia uma tatuagem bem discreta de uma fênix. Rodrigo não havia visto este ultimo detalhe. Eva tinha o rosto com algumas pintas que se estendiam pelo seu ombro e braços. Ela não usava maquiagem e cheirava como lavanda. Era uma mulher maravilhosa, e seu aspecto era maduro. As olheiras eram inevitáveis, mas naquele dia estavam suaves, quase invisíveis.

- sua tatuagem é bonita.

- sua barba está por fazer – observou. - talvez...

Cada palavra que saia de sua boca soava como dias de conversa. Ela era uma mulher silenciosa. Conseguia se comunicar através de expressões sucintas e montadas com capricho. Não era difícil de saber que em sua casa havia um sossego, uma nostalgia imanada a musicas de várias épocas, fumaça de cigarro misturada a cheiro de chá quente.

- talvez o que?

Ela se recompôs e recostou o seu corpo no marco da porta. Olhou para o lado de fora e tirou de sua bolsinha tiracolo, um cigarro e começou a fumar.

- talvez você não seja tão novo.

Rodrigo corou com a observação que ela fizera. Ela havia caído em tentação assim como ele. Então em um ato rápido, ele pressionou o seu corpo ao corpo de Eva e levantou a mulher até que o seu ventre encostasse-se ao abdome dele e ela envolvesse as pernas no quadril de Rodrigo que a beijou na boca. Tocou os lábios dela de uma maneira dócil e ao mesmo tempo masculina.

Os dois se afastaram do marco da porta para fechar-la e entraram na sala de estar e pouco depois, Rodrigo entrou em uma espécie de paz. Uma tranqüilidade dentro de si.

Eva, não era só uma mulher. Eva não era apenas uma pessoa que sabia amar. Ela era a paz de Rodrigo. Ela era uma figura que falava suas emoções pelo seu olhar, por gestos, pelo seu tom de voz. Enquanto faziam amor, o mundo entrou em pausa. Havia somente duas coisas importantes no momento: Eva e o amor.

Tudo aquilo foi feito como uma encenação, uma luxuriosa peça teatral. Corpo, pele, ventre, calor, sensações diferentes, olhos dentro dos olhos e algo diferente de cada coisa que Rodrigo já havia experimentado. Ele realmente já havia feito amor antes? Será que sua ultima namoradinha estava certa em achar que Rodrigo não havia feito muitas coisas em sua estrada?

Não. Era a primeira vez que ele experimentava daquilo. Daquela mulher, tão natural e tão escorregadia. A medida que o chão da sala de estar ia se tornado cada vez mais confortável e aconchegante, Rodrigo começou a sentir medo juntamente ao enorme prazer. Medo de perder. De deixá-la ir embora. De que ela acordasse e visse nele somente um moleque, e a cada vez que o peito dele apertava com estes sentimentos, ele tentava mostrar a Eva que ela era uma mulher. E ele era um homem. E que ela não era somente uma mulher, mas era a pessoa que poderia conseguir qualquer coisa dele.

O cheiro de Eva inundava aqueles instantes. Ela produzia um aroma único. Uma essência que entorpecia a mente dele. Uma coisa de gente apaixonada. De gente que realmente ama.

“ela é minha, e, sobretudo, eu sou dela” ele pensava. Cada segundo era maior. Ponteiros parados!