sábado, 8 de agosto de 2009

o chato

o chato se aproxima:
-cara ! há quanto tempo?!
fazia anos que não se viam.
-ah, um bocado não é? mas eu to meio...
-pois é, faz tempo mesmo. e a marcinha, aquela loirinha BOA? tá pegando? tá pegando né? safado!!
o homem o olha sem expressão.
- ela é minha esposa.
o chato não acredita.
-corta essa cara! você, o malandrão pegador? casado? nunca. (risos)
o homem, desconfortável com a situação. o chato o abraçando pelo ombro.
-mas que beca é essa em rapaz? parece até que vai fazer alguma coisa chique.
o homem dá aleluia que o chato notou que sua roupa era cara, terno fino. não podia amassar.
-pois é, não é mesmo? estou atrasado, tenho um importante compromisso.
o chato percebe, finalmente, estar incomodando.
- ô cara, se você tem um compromisso... deve ir, ainda mais você que detesta compromisso.
era mentira, mas o homem ignora o comentário, tinha de aproveitar a brecha, o seu patrão falecera, tinha de ir. o patrão era gente fina, teve um ataque súbito do coração. coitado. homem tão responsável, era criticado, como ele, por ser assíduo. compromissado com seus deveres. seu Justino. até no nome ele era Justo.
-pois é, deixa eu ir então... a gente se fala um outro dia. (no de são nunca á tarde-pensou)
-mas antes cara, tenho que te dar uma notícia, por isso vim aqui na sua casa.
o homem já não aguentáva mais a enrolação. estava enfadado do chato.
-fala... - disse quase sem coragem de ouvir a bobagem dispensável que estava por vir.
-pois é cara... não é nada muito bom.
-então deixa pra outra hora, mais conveniente, pois agora estou muito atrasado, mal posso prestar atenção.
o chato não se importa, meio constrangido, dá adeus ao velho amigo e diz que também está atrasado para um compromisso.
atrasado o caramba!- pensa o homem-ficou foi sem graça!
os dois se vão.
no velório o homem se depara com o chato novamente. estava na borda do caixão. com os olhos vermehos. desolado.
o homem, vira-se para um dos colegas de trabalho:
-o que esse sujeito tá fazendo aqui?
-a coitado dele, não sabia? ele era filho do "homem". chegou aqui dizendo que não tinha nada nesse mundo, que até um amigo muito antigo o dispensara hoje! essas pessoas de hoje, tão sem coração. mas deixe-me ir consolar o filho do chefe, ele está com muitas responsabilidades agora que herdou a empresa. filho único. com uma batata quente dessas na mão, precisa de um ombro amigo.
o colega, sai ajeitando a gravata, e deixando o homem sozinho.

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